Estou enviando para o blog, mais uma crônica minha, se for do interesse vocês publicarem.
Existe outra maneira mais simples de enviar um texto para a página poetas livres?
Saudações bageense
Krretta
Eis o texto:
AS VISITAS
Krretta
Outro dia estava me lembrando das visitas que fazíamos, lá na minha Bagé, quando íamos com nossos pais, na casa de amigos e parentes.
Isso já nem existe mais, e não é por causa da pandemia, pois já tinha caído de moda há muito tempo.
Já diriam os franceses: "démodé".
É, mas eu sou do tempo de se fazer visitas sim, embora muitos ou a grande maioria possa achar isso muito arcaico.
Lembro que minha mãe, na hora do banho, dizia para nós que tínhamos que caprichar porque naquela noite, depois do jantar, íamos fazer uma visita.
Não era bem o programa de que mais nós gostávamos, pois ficar na rua, brincando com os nossos amigos, era insubstituível.
Pega-pega, polícia/ladrão, esconde-esconde entre outras façanhas, era o preferido, sendo que estava terminantemente proibido jogar futebol de noite.
Mas, por quê?
Simples, meu caro "Watson" ...já tínhamos tomado banho e, jogando futebol estava claro que iríamos suar, sendo que outro banho antes de se deitar haveria de ser tomado. É claro que não iria acontecer e, dormir suado, jamais...
Então, futebol nem pensar...
Mas, falávamos das visitas.
Pois quando terminávamos a janta, e feito todos os protocolos pós ceia, saíamos todos juntos, pai, mãe e filhos pelas ruas calmas e tranquilas de Bagé, caminhando...sim, caminhando a pé, pois carro era de um luxo só e estava muito longe das posses da nossa família.
Ninguém avisava ninguém de que receberiam visitas, pois também o telefone era coisa rara e, naturalmente a comunicação era difícil.
Simplesmente se ia fazer uma visita, de surpresa mesmo e, sempre, indistintamente, éramos bem recebidos pelos donos da casa e os seus rebentos.
O sorriso e a satisfação pela visita era marca registrada dos anfitriões.
- Fulana, vem cá, olha a maravilha de visita que estamos recebendo – gritava o dono da casa, invariavelmente.
E lá vinha a patroa da casa nos receber e, junto dela e com os olhos curiosos, os filhos que porventura ali estivessem.
Entrávamos e logo a sala da casa era oferecida para nos sentarmos, donde a conversa iria prosperar em caudalosa prospecção.
Num primeiro momento, ficávamos encabulados, sentados em um sofá, só esperando a deixa dos amigos da casa nos convidarem para brincar.
A curiosidade sempre residia nos seus brinquedos, geralmente guardados a sete chaves nos quartos.
Enquanto meu pai e minha mãe conversavam distraidamente na sala com os seus amigos, as brincadeiras iam tomando forma, o que sempre ocasionava um "bah, tava tão bom", na hora de ir embora.
As visitas daquela época eram singelas e acolhedoras.
Sempre eram oferecidos ou um café ou um chimarrão, com alguma guloseima, pois as casas daquela época tinham "essas coisas" e, para não serem surpreendidas pelas gostosas visitas de paraquedas.
Televisão, vídeo game, headphones, para quê, se a vida pulsava eternidade nos risos fáceis e na alegria daquele encontro?
Simplicidade, alegria e amizade, era assim que era.
O tempo passou e nossas casas, tristemente, viraram um templo de solidão.
Os encontros são bem longe dali, se não tiver criança bem melhor, e, de preferência que cada um pague a sua despesa.
Os encontros tornaram-se impessoais, frios e distantes, quando ninguém quer mais ninguém dentro das suas casas.
O poeta britânico, George Herbert disse: "A vida sem um amigo é a morte sem testemunha".
As visitas não existem mais, quando estamos povoando nossa solidão de saudades e lembranças.
"Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato."
Barão de Itararé
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