Ninguém sabe exatamente o que está fazendo – mas alguns ganham bem durante o processoEnclave #134: RelevO Max Go Premier Diamond. Nelson Rodrigues tradutor.EDITORIALBom dia! Bem-vindo(a) à Enclave #134, a newsletter que entrega o carteiro. Já enviamos a edição de julho do RelevO, ao passo que a de junho está disponível no site. Lembrando que o RelevO abriu votação para seu novo slogan. Há anos, utilizamos “A culpa é do revisor”. Agora oferecemos três opções:
Participe no Instagram (ou respondendo por aqui; não é como se fôssemos adotar um critério muito confiável na apuração…). HIPERTEXTONinguém sabe exatamente que está fazendo – mas alguns ganham bem durante o processo
“Bom senso” é uma das ideias mais inexplicáveis, porém identificáveis na nossa vida cotidiana. Qualquer um consegue perceber, mas, principalmente, assim como a falha do goleiro (ou do revisor de textos), sua ausência é ainda mais notória. É mais fácil testemunhar a falta de bom senso na gafe, no grito inconveniente, na roupa descontextualizada. E bom senso, por si só, não nos leva tão longe. Bom senso não constrói aviões ou desenvolve vacinas. Mas ele evita vergonha, catástrofe. É um ponto de partida. Apenas munido de bom senso e alguma confiança, um indivíduo pode avançar (provavelmente de forma constante e lenta, sem saltos megalomaníacos).¹ E, enfim, se você perguntasse a qualquer ser humano que conhecesse a HBO e sua fama na televisão, consideraria uma estupidez sem tamanho abrir mão do nome HBO. Um curioso caso em que bom senso e senso comum – duas ideias relacionadas, mas não iguais – convergiram. O senso comum, uma sabedoria de grupo não necessariamente correta, apontaria a mesma conclusão. Claro, é possível que ultraespecialistas muito bem pagos, sujeitos esforçados que dediquem a vida para isso, saibam algo a mais. A possibilidade existe. Tecnicamente. Bem como a possibilidade de, quem sabe, quem sabe, uma camada razoável do mercado de trabalho ser composta de chorume que se retroalimenta. Bullshit jobs. Com isso em mente, ou com nada em mente, executivos com poder de decisão preferiram ousar. Pensar além. Fora da caixa. Disromper. Como naquela cena mais famosa por aquela música. “No one knows what it means, but it’s provocative – it gets the people going!”. Para que ficar quieto se eu posso agir? Afinal, preciso justificar que estou fazendo algo. Dois anos depois, corta tudo. Refaz. Volta. E aparentemente o responsável pela decisão não foi guilhotinado??? Metaforicamente, lógico. Casey Bloys, presidente e CEO da HBO e da Max Content, disse na apresentação de maio que anunciou a mudança de nome: “Minha equipe está bem ciente do que a marca HBO significa para a indústria e nossos consumidores”. A empresa quer “elevar o nome novamente”. O presidente e CEO de streaming da WBD, JB Perrette, também disse no evento: “Nenhum consumidor hoje diz que quer mais conteúdo, mas a maioria dos consumidores hoje diz que quer um conteúdo melhor”. A mudança de nome representa o novo objetivo da plataforma de streaming de produzir conteúdo de qualidade, presumivelmente semelhante a séries da HBO como os sucessos atuais The Last of Us e The Gilded Age, em vez de ser tudo para todos. Uau, quem diria. Quem poderia imaginar. Que conclusão absolutamente inacessível dois anos atrás, diante de quem tinha (e tem) em mãos uma das marcas mais fortes do planeta em seu segmento. O curioso é que ainda se ventila por aí (baita eufemismo nosso pra “alguém escreveu na internet e provavelmente não é verdade, e por isso mesmo não estamos tratando como hipótese principal”) que a Warner Bros. teria pagado à McKinsey centenas de milhões de dólares em consultoria para tomar essas decisões. Isto é, no plural. Pagado pela decisão de trocar, depois pagado pela decisão de voltar atrás. Essa é uma hipótese fantástica e torço muito para que seja verdadeira.² De todo modo, considerando que no final tudo se traduz na linguagem do dinheiro, e que se a HBO decidiu voltar a se chamar HBO foi porque percebeu que, ao derreter seu poder de marca, também já estava perdendo dinheiro, me intriga aqui a atuação do bom senso, isto é, de sua ausência. Porque isso se aplica até ao Deus Máximo da arte de fazer dinheiro: Warren Buffett. Segundo o bilionário mais entediante do mundo (definitivamente não é uma crítica), sua regra de ouro é, acima de tudo, “não perca dinheiro”. Ponto. Parece simplista – e certamente é, diante do histórico deste senhor de 240 anos nutrido por refrigerantes de cola –, mas a lógica se refere à contradição a partir da qual estamos sempre preocupados em fazer mais dinheiro quando, se nos preocupássemos em não perder dinheiro (em decisões estúpidas ou com exposição desnecessária ao risco), no fim das contas… teríamos mais dinheiro. Charlie Munger (1924-2023), seu Robin, também prezava por uma via negativa do raciocínio. 1. “É impressionante a vantagem a longo prazo que pessoas como nós obtiveram ao tentar ser consistentemente não estúpidas, em vez de tentar ser muito inteligentes”; 2. “Saber o que você não sabe é mais útil do que ser brilhante”; 3. “É preciso ter caráter para ficar sentado com todo esse dinheiro e não fazer nada. Não cheguei onde estou indo atrás de oportunidades medíocres”. Entre outros exemplos. Cito essas figuras simplesmente para ilustrar o ponto cego do lugar/contexto que mais deveria louvá-las. Bastava sentar sobre o dinheiro e não fazer nada. Mas enfim. Provavelmente seria mais difícil justificar alguns bônus daqueles que certamente pedem mentalidade de dono ou algo assim em reuniões diárias. E que, imagino, não perdoariam uma falha tão patética, um erro de julgamento tão grosseiro de seus subordinados. A massa estava certa, como às vezes acontece (e muitas vezes não). Feliz ou infelizmente, não ganhei ou perdi nada com isso. Mas esse chorume de corporativistão, portanto, ao menos nos serve de algo: ninguém sabe exatamente o que está fazendo neste planeta. Ainda assim, alguns não deixam de ganhar bem enquanto conduzem algo desnecessário, errático ou estúpido.³ Eis uma boa motivação na próxima vez que você tiver medo de conduzir uma reunião, participar de uma entrevista ou simplesmente se expor a um cenário novo. Longe de querermos motivar alguém (jamais!), porém… a verdade é que, em determinadas condições, jumentos também voam. BAÚDinheiro vs. Nelson Rodrigues
Ruy Castro, O Anjo Pornográfico: a vida de Nelson Rodrigues. Ed. Companhia das Letras, 1995. 1 Quem quer algo constante e lento em 2025, não é mesmo? 3 Não é o caso do RelevO, que não ganha bem. |
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terça-feira, 15 de julho de 2025
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terça-feira, 8 de julho de 2025
Anônimo se transforma em SAF e se classifica para a 1ª divisão do Campeonato Capixaba
Anônimo se transforma em SAF e se classifica para a 1ª divisão do Campeonato CapixabaMagno Santos, o Maguinho, agora é empresa de capital aberto.
Nesta newsletter, resgatamos textos publicados no Jornal RelevO e já devidamente esquecidos. Dessa vez, trazemos as centrais da edição de setembro de 2022. Anônimo se transforma em SAF e se classifica para a 1ª divisão do Campeonato CapixabaInteresse público ou interesse do público? RelevO apresenta em primeira mão os detalhes da transformação de Magno Santos, mais conhecido como Maguinho, em uma empresa de capital aberto e informações fechadas do futebol brasileiro. ![]() RelevO, setembro de 2022. Diagramação: André Delavigne. Assine para receber (de graça!) conteúdos como este: Fim do fantasma do rebaixamento; piscina limpa no clube; atleta em formato de atleta. Desde agosto de 2021, com a promulgação da lei que permite a transformação de clubes de futebol em empresas – as famosas SAF (Sociedade Anônima do Futebol) –, o torcedor brasileiro tem alimentado a esperança de dias de glórias, ou ao menos vergonha controlada e sono menos turbulento. “Se o meu clube voltar a pagar a luz em dia e, quem sabe, parar todo ano de perder pra um time chamado Caruaru City, eu já ficarei feliz”, comentou, sem querer se identificar, um torcedor com camisa semelhante ao do Santa Cruz, antigo clube de Recife. “Estou desgastado por anos e anos de memes repetidos e piadas regulares no almoço de domingo”, entrega o torcedor, visivelmente alcoolizado e irritado. O que ninguém esperava é que uma pessoa que perdeu o RG e nunca fez a segunda via, usa um carro pizera com vazamento regular de óleo e mantém uma carinhosa dívida junto ao TSE por não ter votado nas últimas três eleições pudesse se tornar uma SAF e revolucionar o futebol brasileiro. “Fui eu, Deus e um fundo investidor do Catar – o VTC, Vai Te Catar, hahaha”, alega Magno Santos, o Maguinho, jogador de 33 anos conhecido por ser muito bom de grupo, não exatamente de bola, com passagens ordinárias por Guaratinguetá, Espigão e Rabotnički, clube ascendente da Macedônia. “Lá tem o melhor byrek [massa folheada com recheio de queijo, carne ou vegetais] do mundo!”, reconhece, “principalmente quando o estabelecimento não usa carne humana”, completa. Aliás, foi na PRVA Liga, em um jogo “contra um time que tinha nome de ppk”, que Santos teve o primeiro contato com o mundo das SAFs. “Um sujeito com uma mala do Ben10 perguntou se eu tava com o nome sujo no SERASA”, recorda. “Como eu não sabia das minhas possíveis restrições, nem o que era SERASA (jogador tem que pensar no campo), resolvi dizer que não só pra ver qualé. Ele parecia carioca, e a última coisa que alguém quer na vida é ser enganado por carioca – principalmente um capixaba”. Em linhas gerais, a proposta transformaria, documentalmente, Magno Evandro dos Santos em Maguinho Futebol Clube, zerando sua idade social e, inclusive, resolvendo o problema de calvície, já que ninguém chama uma pessoa de menos de um ano de “gordo cabeça de piroca”, enfatiza, com orgulho tímido, Maguinho FC. O “carioca” era, na verdade, o português João Filipe Carvalhal, ao passo que a mala do Ben10 era, precisamente, uma mala do Ben10. Carvalhal alegava representar um pool de investidores do Catar – dos mais variados setores da sociedade (exceto mulheres) –, todos tediosamente ricos e interessados em preparar terreno com um pouco de venture capital para a Copa do Mundo no emirado. Além da mala, ele vestia um trench coat grafite até as canelas – e uma boina, adotada após ter sido chamado por um amigo de “Calvo anal” na semana anterior. As palavras haviam abalado a metafísica do misterioso intermediário: “é apenas uma entradinha”. Em um primeiro momento, as condições da proposta entregue por Carvalhal surpreenderam Maguinho. A primeira das três cláusulas para a implantação do projeto era não vacinar-se mais que duas vezes (para qualquer coisa), o que jamais seria um problema para o falso 9 capixaba. “Minha mãe diz que me vacinou pra tudo, mas não conseguiu baixar o app pra emitir o comprovante. A Claro é uma porcaria, todos sabem – e outra, aquela velha mentia, viu? Uma vez tentou me trocar por um Gol Bola, eu ouvi tudo; depois a picareta alegou que aquele era o veículo do Papai Noel”. A segunda obrigação era aceitar ser chamado, casualmente, de “Homem-Holerite” pelo grupo de acionistas – “não mais que seis”, reforça. Também deixaria de frequentar a Mecânica e Pizzaria do Joca, já que a Maguinho FC teria patrocínio de uma concessionária de Dubai (o que não foi considerado condição, mas um “pedido gentil”). A última cláusula consistia em jamais aceitar jogar contra qualquer time de Santa Catarina para não impulsionar qualquer confusão com o gentílico <catari>. “Essa última cláusula me confundiu um pouco, mas, ao mesmo tempo, quem se importa com o futebol catarinense? Minha avó dizia que a única coisa boa de lá é que separa o resto do Brasil dos gaúchos”, filosofa Maguinho. O plano, observando em retrospectiva, não era realmente inviável. A holding Maguinho FC, agora situada em Colatina-ES, rapidamente constituiu um Conselho de Sócios, formado por sua ex-esposa (“mas muito parceira e compreensiva”), Rita; o amigo e companheiro Juvenal; Alex do Posto 21 e duas pessoas chamadas Omar (respectivamente, “Omarvado” e “Omarbravo”). A operação foi considerada pelo novo Conselho como uma manifestação clara do espírito democrático do novo clube. João Balotelli, prefeito de Colatina, logo mandou fazer um busto de Maguinho na entrada da cidade, ao lado do letreiro EU ❤ COLATINA. “Estamos em contato com um grupo de investidores do City Group que pretende construir uma série de campos em Colatina com o intuito de competir com a popularidade da pelota basca entre os nossos jovens”, declara. “Menos drogas, mais SAFs será meu slogan de reeleição”, proclama. “Não que pelota basca não seja uma droga…”. Em menos de dois meses e quatro mortes por imprudência da equipe de obras, o grupo supostamente catari construiu um moderno estádio para 8 mil pessoas e começou a investir em jogadores de 18 a 25 anos espalhados por equipes do interior de São Paulo. Reserva na Macedônia, agora Maguinho era manager e head coach do novo clube, recebendo, em dias de jogo, um memorando com o time titular e o esquema tático do dia. Com a rubrica SantosBET, o documento norteou a ascensão meteórica do novo escrete, que, em dez jogos na Segundona capixaba, venceu sete partidas e manteve a boa média de oito escanteios em cada segundo tempo, além de dois cabeceios ao gol de um camisa 88 entre os 17 e 24 minutos da primeira etapa. “Tudo normal”, alega João Filipe Carvalhal, agora CEO. O advogado Manuel Marcondes, o Marnel de Malhadas, vê um conflito de interesses na Maguinho FC. “Tentando ser o mais breve e objetivo possível, uma SAF será um clube-empresa, mas a recíproca não é verdadeira em relação a uma empresa ser uma pessoa-SAF, porque aí temos conflito de SAF para CPF. Resumindo: chega uma hora que esse monte de sigla é um saco e eu me arrependo das escolhas que fiz na vida”, define. “Mas o uniforme ficou bacana”. O futuro ao Catar pertenceA Maguinho FC não prometeu títulos de expressão logo na primeira temporada, mas já garantiu calendário para 2023 e cotas de 8 milhões de euros. Contudo, alguns problemas surgiram após a frustrante derrota de 5x0 para a Desportiva, com dois gols contra do zagueiro Naldo e o primeiro caso conhecido na história do futebol de autorreversão crônica, em que uma equipe – a própria Maguinho FC – conseguiu simplesmente errar todos os laterais, irritando até a arbitragem. A situação no mínimo peculiar acarretou a suspensão do árbitro “Sam” Rabeira Micci por três meses – até descobrirem que ele mesmo havia apostado na própria suspensão na SantosBET. “Agora que esse gordo toma no cu”, declarou o representante da comissão de arbitragem da Federação Capixaba de Futebol, que na verdade se chama Federação de Futebol do Estado do Espírito Santo. Em áudios divulgados pela comissão, Micci surge xingando atletas da Maguinho de “retardados mongolóides” e “idiotas pela-saco; é só repor a bola”. Em dado momento, o árbitro também foi flagrado vendo vídeos do YouPorn no celular enquanto a Desportiva tocava a bola no campo defensivo, dizendo “tenho mais o que fazer”. A Interpol também investiga uma aposta suspeita em Taiwan que levou o cidadão Cheng-Chong, agora conhecido como O Próspero, a ganhar 300 mil dólares com a vitória da Desportiva por mais de quatro gols + um jogador da Maguinho expulso por uso de narguilé nos acréscimos do segundo tempo. A imprensa brasileira também tem acompanhado denúncias de que a Maguinho FC seria apenas mais uma empresa com grana catari para promover a chamada lavagem de imagem, prática em que um podre de rico gasta dinheiro no futebol sem esperar lucro com o intuito de arrecadar um dinheiro ainda maior em outras frentes – o que, tratando-se do Espírito Santo, tem intrigado os especialistas. Políticos de Colatina, apelidados de “Maguinho Haters” pela comunidade do Facebook Somos Maguinho Geração de Emprego, com 310 mil membros (e apoiada pelo “Imperador do Bitcoin”), exigem a publicação dos contratos da Maguinho FC, além da transcrição de conversas do WhatsApp que comprovariam que Maguinho seria apenas um laranja catari com o intuito real de acumular tanto dinheiro a ponto de acabar com o fenômeno do agropop. O “Escândalo do WhatSAF”, como foi batizado, também investiga tatuagens cifradas com QR Code nos braços dos atletas. “É tudo um grande esquema! Quer saber? Um bando de SAFados”, denuncia o vereador Toninho do Posto. “Deus não escolhe os capacitados nem capacita os escolhidos”, responde Magno Santos. “Sei lá o que Ele faz”. O mistério da Maguinho FC já é o maior evento da história do futebol capixaba. |
Ninguém sabe exatamente o que está fazendo – mas alguns ganham bem durante o processo
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Enclave #131: tudo é artificial. ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ...
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Concursos literários, editais, cursos de literatura, eventos literários e financiamentos coletivos entre 4 de fevereiro e 2 de março. ͏ ...