Já faz algum tempo que leio nas redes sociais uma postagem, onde reflete um lindo banco de praça, em uma paisagem deslumbrante, muito ensolarado e muitas flores (que dá até para sentir o perfume delas) ...e uma pergunta: "Se você pudesse sentar neste banco e conversar por uma hora, com qualquer pessoa, quem seria?"
Com certeza convocaria o Chico Carretta, meu pai.
Eu tinha dezesseis anos quando ele faleceu.
Se foi prematuramente, pois ainda tínhamos muito para conversar e, muito mais ele para me ensinar da vida e de suas nuances.
Tudo o que vivi e aprendi com ele, neste curto espaço de tempo, carrego comigo até os dias de hoje e, nada foi em vão.
Ao contrário, foram lições extremamente bem aproveitadas, pois deram sentido em minha caminhada, onde ele me ensinou a ser, antes de tudo, honesto e verdadeiro.
Comigo e, principalmente com os outros.
De ensinamentos espírita/kardecista, norteou a minha vida espiritual, onde conheci as diretrizes da caridade e do amor ao próximo.
Ferrenho protetor de sua família, deixou-nos saudades quando partiu, mas seus últimos momentos foram de uma simplicidade e tranquilidade absoluta, mais uma vez dando-nos o recado de que viver em consonância com as leis divinas, tem seus momentos de recompensa, com toda a certeza.
Sempre correto e rígido em seus princípios, e sempre sereno em suas lições, seus exemplos e, até mesmo, em suas admoestações para conosco.
Então, seria ele quem eu chamaria para sentar-se neste banco e para nós conversarmos.
Eu teria, também, muito para contar...como se ele não soubesse.
A minha vida depois da sua partida, minhas conquistas, a doída separação de casa para ir trilhar um mundo totalmente desconhecido e, assumir a função de cidadão brasileiro, como ele tanto prezava e nos mostrava.
A família que constituí, as suas netas...ah as suas netas...aposto que isso seria um capítulo muito especial para ele...as suas netas.
Ele sempre foi muito carinhoso com as crianças e tinha um apreço muito especial por aquelas que perambulavam pelas ruas de Bagé.
Era caridoso.
Me lembro que batiam a nossa porta, geralmente com uma lata de doce vazia, ou de salsicha, pedindo um pouco de comida e, seu Chico servi-as com muito carinho.
Muitas vezes percebi em seu olhar algumas lágrimas, escondidas, mas algumas lágrimas de compaixão e carinho por aquelas crianças.
Ah, as suas netas haveriam de ser para ele lufadas de intensa felicidade.
Sim, precisávamos deste banco e deste tempo para conversarmos e eu lhe contar dos percalços e das vitórias nesta caminhada que, com os seus ensinamentos, tenho muito orgulho de dizer que, "vencemos".
Não sem antes providenciar entre as flores que adornam esta paisagem, um frondoso pé de jasmim, com seu aroma inconfundível, para deliciar-nos neste diálogo entre pai e filho, pois o jasmim era a sua flor preferida.
Ah, seu Chico, em apenas dezesseis anos, permaneceu tantas coisas em mim e que foram, sem sombra de dúvidas as melhores lições que alguém poderia receber.
Talvez Deus, em sua sabedoria Divina, reservasse a ele, apenas palavras que realmente deveriam ser ditas aos filhos, pelo curto tempo que tenha lhe reservado neste planeta.
"A boa palavra é tão duradoura quanto o bronze."
O banco vai continuar vazio, a vida continuará a caminhar em seu passo trôpego e incomovido, alegrias e tristezas serão borboletas a bailar no ar, idas e vindas nunca deixarão de existir e, nosso encontro, por ora, seu Chico, haverá de estar marcado no tempo de Deus.
Que assim seja.
Humberto Carreta, Krretta
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