Uma locomotiva cuspindo violetas ou crônica de um reajuste anunciadoE um poema difícil de diagramar.Bom dia, assinantes e colaboradores do RelevO. Na circular de hoje, com uso de travessões apropriados pelas inteligências artificiais e sob um frio madrugueiro de 2° em Curitiba, temos três recados. 1.Depois de anos estagnando preços — desde janeiro de 2021, pra ser exato —, chegou aquele momento temido, especial e talvez unicamente por nós: o valor das assinaturas do RelevO vai subir um pouquinho. Sim, um pouquinho só. Continuamos como um dos impressos mais acessíveis do Brasil. Nos últimos 4 anos, a assinatura custou R$ 70, menos de 6 reais por edição. A partir de segunda-feira (30), passaremos a R$ 80 por ano, um aumento de 14%. De 2021 pra cá, calcula-se que o aumento médio da inflação foi de 30%. Podemos, sem medo de cometer exageros, dizer que o setor de papelaria aumentou seus preços bem mais que isso. Se uma caixa com 500 envelopes kraft custava R$ 60 em 2021, hoje não sai por menos do que R$ 120. Bem, tudo isso para dizer que aumento de preço é aquele tipo de notícia que chega sempre na contramão da esperança. É como um diagnóstico certeiro realizado por um suspeito de hipocondria. Contudo, preferimos o caminho da transparência a tentar disfarçar: sobreviver está mais caro para um projeto de literatura. Prezamos pela transparência antes de estratégia. Não porque sejamos virtuosos — preferíamos, sinceramente, ter uma holding obscura nas Ilhas Cayman enquanto investíamos em alguma criptomoeda obscura — ou porque temos boas estratégias. A nossa profissão de fé (não confundir com fezinha) é seguir acreditando que é possível fazer um impresso literário independente com o pé no chão, sem dinheiro público, tendo como shape 66 gramas e um envelope pardo. O RelevO é barato. E não dizemos isso como quem desmerece o próprio trabalho — ao contrário. Dizemos porque sabemos que você, assinante, é o verdadeiro mecenas moderno deste projeto detentor de uma certa rigidez cognitiva, mais alinhado, quem sabe, ao fim do século 19. O assinante é quem segura esse jornal que atravessa meses, cidades, fronteiras, desafiando o espírito do tempo: em dezembro, se tudo der certo (...), chegaremos à edição 200. Sem você, não há prestação de contas, crônica, ombudsman, conto, mapa de distribuição ou dobradura que resista. Antes do reajuste, aliás, queremos fazer algo justo: todo mundo vai ter uma última chance de renovar ou assinar com o valor atual. Ainda por R$ 70 ao ano, o que dá pouco mais de R$ 5 por mês para receber RelevO em casa. Um café e meio, dependendo do bairro. Pra quem tem vínculo vencendo em outros meses, dá pra antecipar, aí estenderemos a assinatura pelo tempo correspondente ao fim previsto do vínculo. Por exemplo, se a assinatura vence em setembro de 2025, ajustamos o vínculo até setembro de 2026. Se quiser comentar, renovar ou aproveitar sua última chance antes do reajuste, o espaço é seu. E será sempre. Somos feito de palavra, papel e afeto. Daquilo que, como dizia Quintana, “não vale nada / e parece guardado sem motivo”. Como uma folha seca num livro antigo. Como uma taça quebrada esquecida na estante. Como esse jornal segue publicando, aliás, é uma pergunta que sempre nos fazemos. E o que temos feito, depois de ficar minutos parados olhando uma marca na parede, para manter o RelevO circulando com menos boletos em vermelho e mais ar no caixa? 2.Nos últimos tempos, resolvemos estruturar melhor um serviço que já vínhamos oferecendo no estilo “me chama no zap”: as consultorias literárias. Agora com agenda, método e, veja só, até com um nome mais bonito. O foco continua o mesmo: leituras críticas, orientação de autores em fase de preparação de originais e caminhos possíveis para publicação e divulgação — tudo isso com a sinceridade de quem lê para ajudar o texto a crescer, não para inflar egos (muito menos o nosso). Esse passo profissional, além de fazer sentido no conteúdo, ajudou a segurar as pontas do próprio jornal em meses mais apertados — como os últimos três. Em maio, conseguimos estabelecer um ritmo saudável: uma consultoria por semana, o que tem reforçado o orçamento e, de quebra, nos mostrado o quanto esse serviço faz sentido para quem escreve. Tudo isso estará detalhado na prestação de contas de junho. Se tiver interesse em conversar sobre esse serviço, estamos aqui. Podemos começar entendendo seus objetivos, seus textos e suas dúvidas — sem compromisso e sem síndrome do impostor (ou ao menos tentando disfarçar bem). 3.Tenho especial fascínio por um poema de e.e cummings, com tradução de Augusto de Campos, em uma mistura alucinante de formas, sabores, cores e sons, os detalhes banais do mundo transformado em delírio, em… beleza:
De locomotivas cuspindo violetas. Em um mundo onde tudo grita pelo digital, pela urgência, pelo viral, o impresso literário resiste como uma locomotiva velha, barulhenta, insistente. Manter um jornal literário vivo hoje é como dirigir essa locomotiva. É ruído, esforço, ferrugem. Ser impresso é o nosso tipo de convocatória para a sensibilidade. Com atenção e comprometimento, Daniel Zanella |
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quarta-feira, 25 de junho de 2025
Uma locomotiva cuspindo violetas ou crônica de um reajuste anunciado
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