Seguidores

domingo, 6 de julho de 2025

Opera Mundi: O diário de Estella D’Angelo Cursano,da série os ceifadores, terceira parte!!!

Opera Mundi: O diário de Estella D'Angelo Cursano, da série os ceifadores, terceira parte!!!

 

            Fazer o inventário da biblioteca jurídica pequena, da advogada Estella D'Angelo Cursano, foi deveras cansativo, burocrático e tedioso em uma semana de trabalho solitário. Foi somente confirmar os arquivos que eu já tinha em mãos, em um cartão de memória, eram compêndio raros e muito caros, fruto de décadas de pesquisas. Eram livros antigos de direito constitucional, direito trabalhista, antigos códigos civis, introdução à ciência do direito, direito sindical, filosofia do direito, direito constitucional e diversas versões da constituição. Eu não digo que fiquei muito impressionada com a pequena biblioteca, que deve ter levado décadas para ser formada e nem com a diversidade. Nem tão pouco, estupefata, com a gama variada de idiomas dos livros, em espanhol, italiano, francês e alemão, era uma excelente biblioteca jurídica. Toda a biblioteca havia sido digitalizada e constava no cartão de memória que tinha recebido.

        Mas o fato que ali não era o local de trabalho de Estella, da advogada Estella D'Angelo Cursano, era sim um disfarce bem montado, para incultos desavisados. Provavelmente ali, a advogada recebia pessoas mais próximas, para possíveis consultas jurídicas, ou mesmo pequenas reuniões advocatícias, para poucas pessoas.

            Catalogar a biblioteca jurídica, compor um inventário e pôr fim, confrontar com o catálogo da própria advogada, digitar, imprimir o primeiro relatório e avisar a advogada dos advogados, que a primeira parte do trabalho estava feito. E não demorou para um jovem advogado bater na porta do ateliê de Estella, ele receber o manuscrito, colocar em um envelope lacrado e ir embora em completo silêncio, assim como chegou. O reconheci pelo uniforme, da empresa advocatícia da advogada dos advogados, o logotipo amarelo, no lado esquerdo do paletó refinado, lembrava o sigilo amarelo do rei Hastur. Hora de arrumar as minhas coisas e bater em retirada e só voltar somente no dia seguinte. E confesso que tirei um final de semana de folga para tratar da minha vida doméstica.

            E foi voltar para o estúdio da residência de Estella em um segunda-feira monótona para sair do mais simples para, partir não para o complexo e sim para o mais delicado. As correspondências pessoais de Estella, coisa que confirmou a minha primeira impressão, pois eram pequenos trabalhos advocatícios para parentes e pessoas próximas. Eram questões legais, como divórcios, partilhas de bens, demissões e contratações de assuntos domésticos familiares e da própria advogada Estella D'Angelo Cursano. Como também compras e vendas de bens e imóveis da advogada, parentes e funcionários domésticos de Estella. Poucas correspondências digitais impressas e arquivadas que corroborar com a documentação que havia analisado. A eficiência e sagacidade denunciavam que Estella era uma grande advogada, que exercia o seu trabalho com amor à profissão, que em horas vagas voltava às raízes para não esquecer de onde havia vindo. Era essa a minha impressão até aqui. Mesmo assim, era um esforço estranho, o que estava na minha frente. Tudo muito certo, tudo no seu devido lugar, que era real demais para ser verdade, um esforço para ter conectivo com o mundo real, com a realidade em um local quase clandestino.

      Nada de relevante, de uma documentação que estava no pequeno escritório de Estella. Com os itens catalogados, relatório digitado em dois dias de trabalho enfadonho e sonolento. Liguei para a advogada dos advogados dando a notícia e não demorou muito para a própria chegar ao estúdio residência de Estella. Ela mesmo queria receber o meu relatório em mãos, o que me chamou a atenção quando abri a porta, foi ver a mulher em roupas casuais e junto a ela uma outra mulher jovem trajada de forma igual. Pensei que era um parente dela, pois eram muito parecidas, mas não eram, pois a intimidade das duas denotavam outra coisa e não disse nada.

            A advogada dos advogados, recebeu o meu relatório e não disfarçou a preocupação do que poderia vir daqui para frente. Eu tinha passado o meu cronograma de trabalho, logo no primeiro dia que cheguei o estúdio residência de Estella. E o próximo passo seria adentrar na biblioteca pessoal e obscura de Estella.

            Nos despedidos, as duas mulheres partiram, fiquei mais um tempo ali, olhando para o chão e levantei o meu acampamento fui embora.             

Fragmento do livro Opera mundi, texto de Clarisse Cristal, poetisa, contista, cronista, novelista e bibliotecária em Balneário Camboriú, Santa Catarina.

Argumento de Samuel da Costa, poetisa, contista, cronista e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

Arte digital de Clarisse da Costa, designer gráfico, poetisa, contista e cronista em Biguaçu, Santa Catarina. 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Opera Mundi: O diário de Estella D’Angelo Cursano,da série os ceifadores, terceira parte!!!

Opera Mundi: O diário de Estella D'Angelo Cursano, da série os ceifadores, terceira parte!!!               Fazer o inventário...