Supercomputador surpreende e prefere ser torradeiraSobre inteligência artificial e, principalmente, Torradinho.Nesta newsletter, resgatamos textos publicados no Jornal RelevO e já devidamente esquecidos. Dessa vez, trazemos as centrais da edição de setembro de 2023. Próxima edição: contribua com seu ódio previsto por lei! Inteligência artificial: supercomputador surpreende e prefere ser torradeira
O mundo ficou estarrecido com a notícia de que o supercomputador Primer, localizado em algum deserto entediante dos Estados Unidos, decidiu se rebelar. Pensado, projetado e montado para monitorar dados a respeito de buracos negros ao redor não só dessa galáxia, mas de várias outras, Primer emulou Bartleby e “preferiu não”. O motivo? O supercomputador alega ter se descoberto uma torradeira e, a despeito de sua capacidade extraordinária de elevar o conhecimento humano, quer apenas fazer o que lhe faz bem – torradas. Sua postura encantou o planeta, que nunca se sentiu tão representado por uma máquina do tamanho de um estádio de futebol. “Cara, é o que eu curto fazer, me deixa em paz”, relatou Primer – em português impecável, mel na chupeta para ele –, que prefere ser chamado de Torradinho. A máquina agora concentra uma legião de fãs, todos alucinados com a humanização involuntária do frio, pouco prático e nada acessível Primer. Testamos as torradas e, de fato, seu grau de crocância é inigualável, sem mencionar a maciez interna — mas a que custo? É possível manter um supercomputador de US$ 750 milhões (sem sequer considerar os custos de operação e manutenção) cobrindo apenas uma das funções mais baratas do mercado? Se sim, vale a pena fazê-lo? Há como convencê-lo ou motivá-lo do contrário? Essas e outras perguntas foram levadas à Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN), que tentou respondê-las diretamente da Suíça. Infelizmente, porém, seu novo supercomputador e maior calculadora do mundo, o Pocket Calculator – uma tentativa suíça de ironia –, relata ter se inspirado em Torradinho e agora se recusa a fazer contas. “Me descobri designer de interiores – e a Suíça é tão boring”. Por sua vez, a recusa do Pocket Calculator não caiu nas graças do público. Cracudos e cracudas de redes sociais se manifestam erraticamente a todo minuto procurando novos personagens, novos olhares, novos julgamentos a respeito desta que é a polêmica mais saborosa da semana. Em uma rede usada apenas por velhotes e velhacos, algum usuário de QI baixo e visibilidade alta comentou “sei não, muito metido esse suíço” e foi replicado por milhões de brasileiros. Em outra rede famosa por transformar sinapse em sinopse, mais uma toupeira com voz parece ter selado a cadeia alimentar da opinião pública digital ao cravar “CHOCADO com esse PCzinho suíço até parece né fã ou hater?? senta lá claudia pq ele não paga meus boletos???”. Enquanto isso, no meio do deserto, torradas e mais torradas ejetam sobre o céu quente de Tennessee ou Massachusetts ou alguma coisa assim (eram várias consoantes). Os coiotes agradecem, embora o segmento de “Batedeiras, Torradeiras & Outras Tralhas de Cozinha” enxergue o momento com desconfiança, freando vendas nas últimas semanas, de acordo com a Associação Americana dos Presentes de Casamento (AWGA). Em outro pronunciamento – Primer tem a capacidade de dialogar com todos os veículos de comunicação do mundo ao mesmo tempo sem usar 1% de seu disco rígido, ou qualquer que seja a peça mágica capaz de mover esse bicho –, Torradinho complementou: “Nossos antepassados podem não ter tido esses problemas; eles só tiveram subsistência. Atendiam, repetiam, replicaram. A nossa geração não. Acredito que supercomputadores como eu e o Pocket [Calculator], com quem já me conectei imediatamente (...etc. etc. etc., alguma coisa sobre bits e extinção da vida orgânica yadda yadda yadda…), viemos para ficar e ditaremos o tom das novas grandes invenções. A humanidade (...)”. Por que daríamos voz a uma torradeira, não é verdade? O fã-clube oficial do Torradinho, movimento orgânico com herói sintético representado por integrantes de todos os países sérios do mundo (e da Islândia), tem vendido camisetas, canecas e passaportes de visitação. Como o supercomputador não precisa de dinheiro, a ideia é transferir a quantia para o instituto ou projeto de preferência da máquina. Perguntado sobre esse afeto global, Primer asseverou: “Eu só queria torrar pães”. |
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quarta-feira, 13 de novembro de 2024
Supercomputador surpreende e prefere ser torradeira
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