E o coração na curva de um rio ou mil sonhos que não envelhecemQuase mil assinantes; mudanças na tabela de preço dos Correios; Latitudes no forno.Olá, assinante e colaborador(a) do RelevO. No Informe Mensal de hoje, trazemos três recados que não passam de 300 gramas, o equivalente a 18 gemas segundo a tabela padrão de conversão de ovo in natura para ovo líquido. Em setembro de 2020, com a pandemia da Covid-19 assolando o Brasil de Norte a Sul, começamos modestamente a maior aventura (até então) do Jornal: a remuneração de todos os autores, autoras e artistas gráficos publicados em nossas páginas. O valor definido? R$ 60 por publicação. Não é suntuoso, mas pensávamos assim: por que a cultura da gratuidade é tão legitimada no meio cultural, mais especificamente no meio literário? Então saímos de um periódico que não paga para um que paga pouco. O resultado de nossas ações nos primeiros meses foi surpreendente. Muitos autores aproveitaram os pagamentos para efetuarem a assinatura do Jornal, na época também R$ 60 (atualmente, R$ 70). Aliás, não reajustamos a anuidade há dois anos. Tivemos, então, um acréscimo de 10% no número de novos assinantes e, ao fim de 2020, chegávamos à marca expressiva (para os nosso padrões) de 1.000 assinantes, com um auspicioso assinante de Fortaleza chamado Darwin Oliveira. Foi um curto período em que nos pagamos e, com a diminuição da distribuição física – pois suspendemos temporariamente o envio para os pontos culturais –, resolvemos também pagar os publicados na pandemia retroativamente. Foram 80 pagamentos em 2020. Hoje, já passamos dos 400 pagamentos ao todo, boa parte de recebedores que reverteram em assinaturas ou patrocínios para envios a terceiros (nunca empurramos a escolha). Muitos daqueles que optam honestamente por receber em conta alegam ter sido o nosso Jornal, que sequer tem uma redação oficial, um sobrenome ou faz parte dos melhores clubes, o primeiro a remunerar pelo capital intelectual envolvido. E como pagamos os autores? Simples: com o valor de cada assinatura, de cada anunciante que acredita no nosso projeto literário. As coisas não mudaram muito de 2020 para 2024 em relação ao nosso corpo de assinantes. Na verdade, estacionamos e, no começo deste ano, recuamos para a marca de 940 assinantes em um ano, de modo geral, muito instável. De tempos em tempos, recebemos alguns e-mails questionando o nosso modus operandi de remunerar os autores, quase a nos puxarem a orelha:
De fato, em micro perspectiva, o “modelo de negócio” do RelevO é pitoresco. “Sangramos” o nosso caixa, seja em valores diretos, seja em permutas, com um comportamento que não representa a norma do segmento. Temos prejuízos que poderiam ser minimizados se… não pagássemos os autores, que, com o dinheiro do pagamento, acabam muitas vezes por nos assinar. Contudo, por questões de princípios, seguiremos assim, remunerando. Entendemos que, quanto mais assinantes tivermos, mais buscaremos levar o jornal para quem não tem condições financeiras para tal e, reforçando esse modelo, teremos condições para remunerar melhor os escritores. É um ciclo. Atualmente, estamos com 996 assinantes. E, apesar do ano meio… 12º lugar no Brasileirão, vemos com bons olhos os rumos atuais do Jornal com o surgimento de duas novidades – na verdade uma, mas proporcionada por dois assinantes: Lucas Leite e Rafael Estorilio. Ambos nos assinam desde que o Jornal alega ser gente e passaram, em outubro, a ser patrocinadores regulares do RelevO, repassando um valor mensal para o envio do periódico a novos assinantes e pontos culturais. Com os respectivos aportes, direcionamos o valor a novos quatro assinantes por um ano e financiamos o envio para 10 pontos culturais por mês. Em números absolutos, discriminados na página 2 da próxima edição, as duas contribuições dessa natureza já correspondem a 10% do valor que gastamos com gráfica e Correios. Não é irrisório. Que tal você ser também um patrocinador do RelevO? Escreva para a gente, escreva. Que tal assinar o RelevO e ser o novo-de-novo assinante 1000? 2.A edição de outubro do RelevO foi aos Correios no dia 1º, em um mês de poucas reclamações, e pouco depois de chegarmos aos 14 mil seguidores no Instagram. Aliás, nos sigam por lá também: estamos com novos rumos na comunicação da firma. Mas voltando aos Correios, fomos informados de que, a partir de 1º de novembro, haverá aumento de preço para os envios da modalidade Mala Direta – nosso padrão – de malotes acima de 300 gramas, o que impacta diretamente os pontos culturais, que recebem, na média, 10 exemplares por mês em um pacote de aproximadamente 500 gramas. Também imaginamos o impacto de tais mudanças em toda a indústria de impressos. De todo modo, até 300 gramas, faixa em que se incluem os assinantes, os preços estão mantidos, sem alteração de tabela. Do que teremos de mudanças, estamos estudando alternativas, como desmembrar os malotes em dois e/ou absorver o custo extra por parte de nossos novos e futuros apoiadores. Também nos planejamos para enviar a edição de novembro no dia 31, antes do estabelecimento da nova faixa de preço. Vamos nos ajustar e seguir enviando os jornais aos mais de 400 pontos de distribuição. Não é a primeira vez que contornaremos as dificuldades. 3.No próximo dia 1º, publicaremos a edição #54 da Latitudes. Nossa newsletter mensal se aproxima da marca de 12 mil assinantes no Substack, consolidando-se como uma das maiores do setor cultural no Brasil. A edição atual segue sob a responsabilidade da jornalista Marina Pilato, que capricha todo mês na seleção dos principais concursos literários, editais, cursos de literatura e financiamentos coletivos do Brasil. Aproveitamos para lembrar que a Latitudes agora oferece um serviço acessível de divulgação de lançamentos de livros. Caso tenha interesse em promover seu título, basta responder a este e-mail.
Até mais! |
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segunda-feira, 28 de outubro de 2024
E o coração na curva de um rio ou mil sonhos que não envelhecem
quinta-feira, 17 de outubro de 2024
Deprimido por telas
EDITORIALBom dia! Bem-vindo(a) à Enclave #128, a newsletter híbrida presencial quatro vezes por semana. Nossa última edição tratou de ambientação e caracterização, dois dos mais importantes elementos narrativos. Hoje, damos sequência a uma habitual choradeira a respeito da vida moderna. A edição atual, sobre a ubiquidade das telas, estende a série de incômodos ranzinzas do nosso cotidiano:
Muito em breve, a edição de outubro do RelevO estará disponível em nosso site. Já estamos preparando a de novembro – e você pode contribuir! (Contexto aqui). Inscreva-se para receber – de graça – conteúdos como este HIPERTEXTOPor menos telasO que um avião, um ônibus, um elevador, um carro, um restaurante, um bar, uma mesa de trabalho, uma mesa de jantar com criança, um bolso e uma bolsa têm em comum em 2024? Você, leitor(a) inteligente, não precisa da resposta. Essa não é uma reclamação nova, inédita; um novo insight, a fresh take. Nada aqui é. Lembro-me do exato momento em que o excesso de telas deixou de ser “algo que acontece” para se converter em “algo que me tira do sério”, esse eterno sinal do envelhecimento. Foi num avião. Janelas fechadas (lógico…), tudo escuro. Um escuro confortável. Exceto pela centena de telas ligadas, irradiando luz. Uma ao lado da outra. Uma atrás da outra. Séries; filmes; mapas; menus, tudo com muito brilho. Aquele mal-estar representado em Wall-E. No escuro, afinal, percebemos mais facilmente. Seja num show, seja num cinema, seja num ônibus, alguém invade a paz da sombra com sua luz não solicitada, uma vela dopamínica que não queima, mas acossa. Porque telas, afinal, secam os olhos. O que não é uma afirmação científica – a Enclave não gosta da ciência porque a ciência cria telas! –, mas empírica. Ah, sim, as telas alavancam um dos maiores propulsores da sociedade: anúncios, talvez o motivo número um de sua ubiquidade¹. Ademais, telas carregam consigo um risco colateral diabólico, o pior pecado da modernidade: barulho. Uma TV no mudo incomoda pouca gente; uma TV que te obriga a escutar um comentarista de futebol – literalmente a profissão mais fácil de todo o planeta² – indignado com alguma trivialidade esquecível às 13h04 de terça-feira… complica. Desanima. Machuca. E isso nos remete àquele meme: Claro, do ponto de vista da nossa alienação individual – agora tão fomentada quanto intermediada pelas telas do celular –, talvez nada tenha mudado³. Porém, tecnicamente, telas são (ou podem ser) piores, mais intrusivas que qualquer distração em papel. O máximo que o jornal do passageiro ao meu lado pode me atrapalhar é, quem sabe,… me sujando com tinta? O leitor xingando um colunista? Por sua vez, a tela, além da luz infinita da qual não consigo me desvencilhar sem uma venda⁴, ainda corre o risco de trazer sons. Naturalmente, uma das maiores aflições da vida em sociedade é lidar com a falta de respeito ao silêncio alheio. Aliás, existe algo de macabro quando observamos alguém contemplando uma tela no escuro. Uma gastura desconfortável como uma traça caminhando pelo chão limpo da cozinha. Repare – e não se preocupe, porque o usuário da tela estará sugado demais para perceber sua curiosidade –, é assustador. Trata-se de uma catarse como qualquer outra, porém feia. Passiva, sem elemento estético. O que sobra de mais triste é justamente a automação do processo: é evidente que precisamos de telas porque o silêncio perturba, o escuro incomoda, o tédio mata ou o bebê não se comporta (e os pais estão cansados, provavelmente porque passaram o dia inteiro sentados olhando para telas). Then again, nenhuma conclusão inédita. Mas esse excesso de telas derruba qualquer alma. Não estou dizendo que o problema é pior que, não sei, a ameaça da fome, de uma guerra, da poliomielite ou algo assim. Nem de longe. No entanto, os estressores contemporâneos irritam, descalibram nossa psique de uma maneira que uma ameaça real – inimigo palpável, claro, concreto – às vezes não aflige. Pode ser mais ameno, mas não deixa de ser diferente. Algumas pessoas lidam muito bem com grandes estressores, mas sofrem com o que parecem apenas amenidades ou detalhes. Precisamos urgentemente de menos telas. No trabalho, no lazer, em viagem, durante refeições. Trabalhamos com telas, descansamos com telas, dormimos com telas. São injeções de angústia. Constatá-lo é um clichê; reclamar, uma tolice – mas o que mais resta durante uma guerra perdida? Sent from my tela BAÚMaracujá
João Cabral de Melo Neto. Revista ISTOÉ Senhor n. 1059, 3 janeiro de 1990. 1 Lembrando: “para se mexer, um indivíduo muito provavelmente busca (1) conquistar alguém, (2) impedir o sono de um sem-teto ou (3) inserir um anúncio em algum lugar. Quase todo o desenvolvimento do planeta na Idade Contemporânea pode ser explicado a partir dessas três fontes de motivação. Se ou quando o ser humano morar em Marte, será para impedir mendigos de dormir de graça lá. [Ou para inserir anúncios].” 2 Como alguém que ao longo da vida consumiu quantidades repreensíveis de futebol (desprovido de qualquer orgulho, e, muito ao contrário, apenas o consolo de que, não fosse o futebol, seria algum passatempo pior, como plastimodelismo ou música celta), essa é uma afirmação fácil. Muitos comentaristas de futebol não são capazes sequer de enxergar o jogo, e, pior que isso, a função simplesmente dispõe de zero pele em jogo (c* na reta). Você pode falar qualquer coisa a qualquer momento e nunca ser cobrado por isso, como alguns macroeconomistas — ser um macroeconomista ruim também é uma ótima escolha para embromadores. 3 E, pra ser criterioso, isso já uma concessão. Claro que tudo é relativo: posso ler puro lixo no Jornal e posso usar o celular para fins estéticos ou utilitários. Mas convenhamos, com honestidade intelectual, alguém realmente acha que, *no geral*, a experiência no celular no espaço público não é mais dementalizadora que a da leitura analógica? Te convido a pegar um ônibus e testar. Até pela própria experiência melancólica do deslocamento para fins de trabalho, principalmente em função do desconforto físico, é muito mais convidativo distrair-se com qualquer Reels de fofoca do que conseguir ler Wittgenstein. 4 Outro problema: se eu levantar meu celular num ambiente escuro, você simplesmente não vai conseguir não olhar. É uma questão básica de contraste e de estímulo-resposta. Se eu mantiver esse celular erguido enquanto converso no WhatsApp, você não vai conseguir não ler. DIMINUAM O MALDITO BRILHO.
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