Entre um protótipo de internet e a Duquesa FeiaEnclave #135: conteúdo requentado para poluir ainda mais a Grande Rede. Donald E. Westlake.EDITORIALBom dia! Bem-vindo(a) à Enclave #135, a newsletter que sofre choque anafilático quando em contato com o RH. Essa newsletter anda um tanto parada em função do desinteresse do editor pelo mundo. Para tanto, revisamos e republicamos dois textinhos bem antigos, de quando a Enclave era menos ranzinza (mas, convenhamos, menos legal). A citação ao fim – bem como esta logo abaixo –, no entanto, é de uma leitura recente. Donald E. Westlake publicou O Corte (The Ax) em 1997. A premissa é muito boa: um senhor desempregado após “downsizing” faz uma lista de profissionais com currículos muito semelhantes ao seu para matá-los.
O romance acabou de ser adaptado por Park Chan-wook (Oldboy [Trilogia da Vingança], Snowpiercer, A Criada) no filme Sem Outra Escolha (2025), que ainda não assisti. Como baita olheiro que sou (mêooo), comprei o livro na baixa por R$ 10 (edição de 2001 da Companhia das Letras) no sebo. Lembrando que o RelevO completou 15 anos e – conta-se – foi vendido a uma casa de apostas. Até breve! HIPERTEXTOMundaneumO advogado Paul Otlet, nascido no século 19, era ambicioso. Eu disse ambicioso? Esse belga tomava ambição no café da manhã; fervia confiança na chapa e a devorava com um molho sabor Delírio de Grandeza. Isso porque, em um misto de Wikipédia com Bioshock, ele queria catalogar todas as informações de nosso planeta, armazenando-as em cartas índice, por sua vez guardadas em gavetas como as da foto acima.
Na década de 1930, o Mundaneum já ocupava 150 salas do Palais du Cinquatenaire, em Bruxelas, atraindo milhares de visitantes, os quais podiam tirar dúvidas sobre temas que se deslocavam da higiene bucal às finanças da Bulgária. O projeto recebia um bom investimento por parte de La Fontaine, que já havia conquistado o Nobel da Paz. Por fim, a história se torna mais interessante ao sabermos que Paul Otlet sonhava em transformar sua criatura em uma rede que os cidadãos poderiam acessar de suas próprias casas. Já pensou????? A essa altura, o governo já estava de saco cheio de tanto espaço para pouco retorno e basicamente despejou seu pioneiro. A equipe foi reduzida a um grupo de voluntários, e sua residência esteve empilhada de papeis e mais papeis. Otlet morreu em 1944, e a Segunda Guerra Mundial certamente não ajudou a conservar o material todo. De todo modo, sua influência na consolidação de redes, e, consequentemente, da internet, é imensa. Em Mons, ainda na Bélgica, há um museu em homenagem a essa biblioteca borgiana. Duquesa FeiaA Duquesa Feia, ou Idosa Grotesca, do holandês Quentin Matsys, é uma alegoria sobre luta contra passagem do tempo e o desencontro com os hábitos de sua época. Uma senhora de idade posa adornada com vestimentas da juventude – já fora de moda –, um pitoresco chapéu e seios tão voluptuosos quanto enrugados à mostra, sugerindo uma vaidade talvez excessiva. Essa temática aparece também no ensaio Elogio da Loucura, de Erasmo de Rotterdam, publicado dois anos antes do quadro. No livro, Erasmo se refere a senhoras que “não conseguem sair de perto do espelho” e “não hesitam em expor seus repulsivos seios”. O que mais chama a atenção é o contraste da indumentária da personagem com seu rosto grotesco. Por muito tempo, a origem dessas feições aberrantes foi objeto de debate, até a clamorosa sugestão de que a modelo, na verdade, sofria da Doença de Paget, a qual só seria descrita trezentos anos mais tarde. Essa condição envolve um crescimento desenfreado de alguns ossos. Tal crescimento provoca deformações como as da pintura. Por séculos, pensava-se que Matsys havia copiado uma gravura de Leonardo Da Vinci. Recentemente, no entanto, ficou esclarecido como foi Leonardo, ou alguém de seu ateliê, quem copiou o holandês, já que ambos os pintores trocavam correspondências e desenhos. A “duquesa grotesca” se tornou, inclusive, inspiração principal para o ilustrador John Tenniel desenhar a duquesa do livro Alice no País das Maravilhas:
BAÚTecnologia de transição
Donald E. Westlake, O Corte, 1997 (trad. Celso Nogueira, Companhia das Letras, 2001). |
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quarta-feira, 17 de setembro de 2025
Entre um protótipo de internet e a Duquesa Feia
segunda-feira, 15 de setembro de 2025
Fwd: Opera mundi: A reunião na rua L e o doutor Hentom!
Opera mundi: A reunião na rua L e o doutor Hentom!
''I scream alone in the astral void
Don't leave me alone in timelessness
My immortal vate! ''
Clarisse Cristal
Rua Alcebíades Vanolli, a tenebrosa rua L, que na verdade é um beco, com uma reta uma subsequente extensão abaulada, de um lugar infame, estava muito longe, de ser verdade. Aurora, de um comando apertando como os finos e delicados dedos na manopla no antebraço esquerdo. De o comando verbal inaudível, procure nos bancos de dados e a inteligência artificial, nada encontrou, os reais motivos para aquele lugarejo pacato, na soleira de enormes prédios.
E Aurora a programadora, usou dá lógica orgânica, dos instintos mais básicos de sobrevivência e olhando profundamente daquele lugar com singelas casas de madeira. Então deu outro comando verbal, para acessar a listagem dos moradores, tanto ascendentes e descendentes, nos bancos de dados públicos. A checagem deu uma pista da má fama, eram parentes de líderes de facções criminosas e agentes dos aparatos de segurança. As muitas ondas de criminalidade, aquele lugar por motivos óbvios, foi um lugar a ser evitado nas ações criminosas e ações policiais. As informações eram projetadas em uma pequena tela projetada pela manopla da programadora, imagens decodificadas pelas lentes de contato nos olhos de Aurora.
Parada na entrada da rua L, Aurora revisou o assunto que teria que tratar com o doutor Hentom, e a programadora pensou no lema que norteava as pesquisas e as invenções do seminal engenheiro mecatrônico. Resolver problemas complexos, com soluções simples, era o que guiava a excepcional vida profissional do doutor Hentom. A alcunha de doutor Hentom, surgiu do fato de extrair soluções dos estudos da entomologia, nas construções de robôs, eram na maioria robôs de manutenção, em diversas áreas das indústrias pesada e construção civil pesada, naval e aeronáutica.
Parada na frente de uma singela casa de madeira, pintada de branco gelo, com as suas ruas laterais estreitas e um muro de alvenaria de um pouco mais de um metro, sombreada por um grande prédio residencial. Um homem alto e negro e trajado com vestes casuais, sai da porta lateral e caminhou sorrindo até a pequeno portão de ferro.
— Senhora Aurora, fiquei curioso com o vosso pedido, para uma reunião! — Disparou de forma cordial e direta, o doutor Hentom levantando a mão em um comprimento formal. — Eu quero muito entender os motivos, da senhora de usar a velha comunicação subterrânea, mas entre, seja bem vinda a minha humilde residência.
Aurora a programadora, adentrou no ambiente do doutor Hentom, com um certo temor, pois a programadora não gostava daquilo, ela que compreendia e processava os fatos da vida, com lógica cartesiana. Presa em uma rotina rígida e segura, que se repetia e se repetia dia após dia. Ter o engenheiro mecatrônico, a sua frente, era outra coisa que Aurora, sempre quis se desvencilhar, ter um desconhecido conduzindo a sua caminhada e em um terreno desconhecido. E o pensamento pungente floresceu na mente de Aurora, algo lhe dizia que ela estava vivenciando algo novo e imprescindível. A programadora, teve uma impressão vaga, que não caminhava, flutuava, era uma habilidade, que os botos, que ela ajudou a projetar não possuíam.
Passado o mal estar, Aurora se deparou com o engenheiro mecatrônico parado ao lado de uma mesa de centro, a programadora olhou os quadros nas paredes, eram famílias em momentos descontraídos. As lentes de contato, nos olhos da programadora, fizeram a leitura facial dos elementos nos retratos, os elementos simplesmente não constavam nos bancos de dados e redes sociais. A posterior expansão da pesquisa, apontava que aquelas pessoas retratadas não existiam e nem eram montagens, eram fotografias produzidas por máquinas fotográficas analógicas e recuperadas e tratadas de forma digital.
Aurora percebeu um cabideiro poucos centímetros atrás dela e ali colocou o chapéu e o sobretudo. Os braços alvíssimos e delicados, chamaram a atenção do doutor Hentom, assim como os longos, lisos, finos e cabelos brancos. Um brilho vago nos olhos do engenheiro mecatrônico e a programadora devolveu com um olhar de lince.
— Sente-se senhorita! — Disse o dono da casa de pé e apontando para um sofá.
— Claro doutor! — A voz vacilante da Aurora não passou despercebida pelo engenheiro mecatrônico! E a programadora se sentou e o dono da casa a acompanhou.
— Podes me chamar de Hentom, pois é assim que me chamam a tanto tempo, que eu nem sei mais qual é o meu nome de batismo. E doutor? Estou aposentado, menina! — A voz do Hentom parecei ecoar no tempo e no espaço.
E ambos se calaram, um glacial silêncio constrangedor se abriu por poucos segundos, até que o dono da casa levantou a mão direita fechada e apontou com o dedo indicador, para cima. Abrupto se levantou e partiu para um dos cômodos aos fundos da pequena casa e voltou em pouco tempo com uma bandeja de acrílico, com duas xícaras e um bule de café. Aurora a programadora, se perdeu nos detalhes atômicos impressos, nas peças futuristas, eram estranhos, cheios simbolismos, astrais, mecânicos e eletrônicos. Eram placas configuradas complexas, portentosos braços mecânicos, fórmulas matemáticas de tão avançadas, que Aurora, pensou serem extraterrenas.
— O que de fato, senhora veio fazer aqui? — Perguntou o engenheiro de mecatrônica, colocando a bandeja na mesa de centro.
— Na verdade eu já encontrei o que vim buscar! — Disse Aurora a programadora. E um feixe de luz amarelo tomou conta do ambiente e a programadora perdeu a consciência.
Fragmento do livro: Sono paradoxal, texto de Samuel da Costa, poeta, novelista e contista em Itajaí, Santa Catarina.
Arte digital de Clarisse Costa, designer gráfico, poetisa, novelista e contista em Biguaçu, Santa Catarina.
quinta-feira, 11 de setembro de 2025
Crônica do dia: Depois da peça teatral Madame Macmillan!
Crônica do dia: Depois da peça teatral Madame Macmillan!
''Perco- me na intensidade deste sentir...
Sinto-te, desejo, mas impossível tocá-lo
Como mentir!? És tudo p'ra mim, vida,
Mas existe um abismo, entre nós dois...''
Fabiane Braga Lima
O melhor de um grande dia é o dia seguinte, assim dizem! Onde as verdades se avolumam e se engrandecem, ou se diminuem e se dissipam no ar! Ao final de um grande dia, um texto meu circulava pelos subterrâneos culturais alternativos, fora paus e pedras, elogios e flores e também muita gente chocada. Norte americanos fuleiros disseram alguns, erros crassos disseram o povo das artes cênicas. E o povo das subculturas vieram os aplausos e os vivas. Eu, em particular, não me sentia pequena e nem agigantada, eu era e ainda sou, somente. Eu e a minha realidade cotidiana, era e é somente a minha realidade de uma completa desconhecida, para além do meio que eu existo.
E nada fica no lugar, eu a cidadã das nuvens, exilada na hirta realidade, as coisas têm um peso maior. E lá estava ele, em um déja-vu, o meu pai, o consagrado e prestigiado economista financeiro e também teórico, ele estava me esperando, com a revista Astro-domo em mãos. A malfadada revista de arte, cultura e comportamento, que dificilmente, estaria nas mãos do meu jovem pai, o adorável amante de números, cálculos, planilhas e planejamento. Ele devorava livros, jornais, revistas e publicações digitais, de vários campos das ciências econômicas e da administração e do mundo das finanças. Eram publicações em vários idiomas e muitas delas desconhecidas do grande público.
Contudo a realidade sempre se impõe, como o pior dos piores pesadelos, pois da realidade não se pode fugir, nos força a sair da segurança tranquila dos nossos mundos particulares cotidianos. Para o meu pai, a garotinha dele, estava crescendo e virando uma mocinha, criando negras asas e voando. Ler os meus textos, na versão física na revista Astro-domo, era e ainda é, vista pelo meu progenitor, como algo preocupante e particularmente aterrador.
E de volta ao início, fiquei na porta da sala de estar, na semiescuridão, lendo a revista, pois a revista Astro-domo vem com isto, ler alguns textos na semiescuridão, eram fontes luminosas, para ler na semiescuridão. Eu esperei o golpe, fechei a porta, andei alguns passos à frente e fiquei entre a mesa de centro e o meu possível algoz.
— Boa noite, minha filha querida! — Murmurou o meu pai, sem tirar os olhos do meu texto e continuou — Ou Lady Cristal corrijo-me eu!
— Estás gostando da leitura? — Respondi com força.
— Interessante, já posso calcular os quanto custa uma edição de livro de pouca tiragem e quanto custa uma digressão de uma banda de Grindcore pela Europa e pelo nosso amado país. É muito bom os contatos das pequenas editoras, selos editoriais e produtoras independentes, agora posso encomendar custos de produção e comparar preços, em diversos serviços. — Era o meu pai, falando que tudo estava bem.
— Bom saber! — Devolvi, esperando que ele não levantasse os olhos e me encarou, mas levantou os olhos e me encarou com o olhar da penitencio e para depois me confortar com o sorriso da benevolência.
— Outro final em aberto? — Era o professor falando e o pai indo para outro lugar.
— Adoro as finais em aberto! E antes que pergunte, sim haverá outros desdobramentos! — Abri caminho para o meu pai voltar. Aí lembrei que estava no breu e fui acender a luz.
— Sempre me manipulando, este velho aqui como um grande especular, manipula o mercado de comodidades de safras futuras! — O bom professor se recusava em ir embora.
Virei-me e sorri de nervoso, caminhei até a frente do meu pai, eu queria acabar com a coisa toda.
— Uma conversa delicada! — Disse tentando não me expor.
— O bom e velho universo compartilhado, já organizei as finanças de escritores e editoras, como é o meu mister é conhecer os meus assessorados! — Disse o meu pai e colocando a revista na mesa de centro.
— Sim, talvez e talvez digo que vá parar em um universo compartilhado, ou eu aproveite os personagens e ambientação em outros universos meus! — Eu queria terminar aqui, joguei a minha bolsa na mesa de centro, me rendi pois a pergunta seguinte não tardava.
— E o que houve com os quatro cavalheiros sulistas? — A pergunta veio afinal. O meu pai veio com força e adeus economista.
— Pois bem! Digo somente para minha audiência cativa e particular! — E arrastei a poltrona que estava ao lado do meu pai, me sentei na frente da minha audiência. — Então os quatro cavalheiros de descendência sulistas, irão vivenciar os horrores e terrores que lhe foi mostrado, acordaram e se depararam com a senhora de idade avançada, varrendo as folhas secas no palco. O teatro estava vazio, a audiência simplesmente foi embora depois que a peça tinha acabado, os quatro cavalheiros de descendência sulistas, tentaram deixar o pequeno teatro. E não conseguiram, presos as poltronas, escutaram a senhora falar que eles não tinham escolhas a não ser vivenciar os mesmos horrores e terrores para sempre.
O meu olhou para mim, se levantou e me deu boa noite. Eu me recolhi na minha insignificância e caí na cama só acordando no dia seguinte.
Fragmento do livro: Do diário de uma louca, texto de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária em Balneário Camboriú, Santa Catarina.
Arte digital de Clarisse Costa, é designer gráfico, novelista, contista e cronista em Biguaçu, Santa Catarina.
terça-feira, 9 de setembro de 2025
Enfim, debutantes
Enfim, debutantesRelevO completa 15 anos e não faz festa nem viaja pra Disney. Mas entra para o mundo das bets!
Neste mês de setembro, completamos 15 anos. O que é 15 anos a mais que o esperado para um jornal literário e 15 anos a mais que o esperado para qualquer projeto pessoal. Quinze! Uma marca de respeito. Nascemos em um mundo pré-WhatsApp, Uber, Netflix e afins. A internet ainda era um lugar semipuro, com blogs pessoais e personas (ou personae, se você for pedante) menos desenvolvidas.
Para celebrar a ocasião, seguimos com uma de nossas atividades favoritas: criar capas falsas. Dessa vez não nos ofertamos à Red Bull (por sinal, cinco anos depois, nossa oferta segue viva, caso alguém aí esteja escutando…) ou tentamos emular uma revista automobilística ou corporativa. Fomos mais simples, simplistas ou simplórios. Como qualquer bom empreendimento brasileiro, o RelevO agora foi vendido a (ou seria “tomado por”) uma casa de apostas! Mas não é qualquer casa de apostas. É a macBET, que vai permitir a você, leitor, estender sua degeneração – agora com odds literárias. O comunicado você lê logo abaixo, seguido do nosso disclaimer de jogo responsável. Ambos constam nessa edição especialíssima de 15 anos, sanduichados por outra capa&contracapa belíssima de Bolívar Escobar e nossas centrais temáticas. Imagens logo abaixo também. Obrigado – de verdade – por acompanhar o RelevO. Se possível, assine nosso jornal: você contribui para um projeto independente e desprovido de herdeiros (nada contra; se você é um, que tal nos assinar? Ou comprar a operação inteira). ![]() RelevO: edição de 15 anos (setembro 2025). Diagramação: Bolívar Escobar. PUBLIEDITORIAL MACBETQuinze anos, uma aposta: RelevO debuta no mundo das betsDepois de ter dito sim à Red Bull (sem os austríacos terem perguntado algo), o RelevO anuncia um reposicionamento estratégico. Nosso próximo grande passo. Um movimento natural, orgânico e talvez até óbvio para um periódico impresso de literatura: ser vendido a uma casa de apostas. Mas não qualquer bet. A MacBET. Conhecemos o CEO da instituição, Sir Reginald McHaggis, numa noite fria do inverno curitibano. As negociações foram extremamente rápidas. Preocupantemente rápidas. Eufórico e entorpecido (“pass me the loló, you féckin wênka”), McHaggis ofereceu ao RelevO aquilo que este sempre quis: dinheiro privado de fontes escusas “sem ter matado ninguém”. Em troca de quê? Ainda estamos descobrindo, mas precisávamos fechar a edição logo para receber o “falcão maltês”, como temos nos referido ansiosamente à transferência bancária originada em Malta. Assim como o RelevO, a MacBET aposta nos autores. Ou melhor, talvez não exatamente como o RelevO. Uma maneira menos literária e mais… literal. E, veja, agora você também poderá fazer aquilo que nunca pediu e tampouco sabia que queria (como máquinas de lavar smart e assistentes de leitura com IA): arriscar o próprio patrimônio com literatura, divertindo-se muito pouco, mas viciando-se no processo. A partir de agora — justamente agora, quando até os jovens gostam de objetos analógicos —, o RelevO decidiu esboçar um seguro de fracasso (não contra o fracasso) contemplando tudo que pode fazer para “acompanhar os movimentos do mercado” sem braço e sem orçamento para tal. Assim, o impresso mensal terá seu tamanho reduzido para quatro páginas e se concentrará em um app de apostas focado em literatura – e em anúncios. Muitos anúncios. Seremos pop. Especificamente, um pop-up. O mais invasivo da história da literatura. Mas que tipo de aposta? É aí que entra o pulo do gato (ou do pangolim). Tudo é apostável, meu amigo. Com a tecnologia LTMMFF (LifeTime/MoneyMoney/FaceFuck), desenvolvida pelo próprio McHaggis – “num feriado no Sudeste Asiático do qual pouco me orgulho” –, a convergência entre MacBET e RelevO nos permitirá elevar a literatura nacional a outro patamar. Quer apostar em conto de corno? Manda bala. Odds de erro de nome de autor? Vem com a gente. Que tal uma fezinha sobre poema ruim / mas qu-brad/o em /síl/abas tort/as pr/a disf/arç/(ar)? Está na hora de mudar a grafia de “ode” e adicionar outro T em beletrista. Sir Reginald McHaggis, já atendendo como “Betinho” — preferimos não perguntar, muito menos verificar de onde veio o notavelmente falso “Sir” —, enxergou no RelevO a oportunidade ideal, porque “o RelevO é onde a banca nunca ganha. Isso passa credibilidade. Não que eu precise de mais credibilidade…”, alegou, antes de simular um infarto e perceber que ninguém o via, então interromper o movimento como se nada tivesse acontecido. De todo modo, o momento é estratégico para o Jornal, que acaba de completar 15 anos, “idade perfeita para começar a punir os pais por terem guardado algum dinheiro”, aponta McHaggis. “E também quando as menininhas começam a…” — aqui nós o interrompemos antes de ouvir qualquer coisa de sua caixa preta. Velho nojento. Na verdade, Betinho McHaggis é um Lorde, injustamente foragido do Reino Unido por supostamente aplicar um golpe nas apostas de break dance durante as últimas Olimpíadas. “Eu… meio que coloquei a modalidade lá. E todos os dançarinos. Garanti uns trocados — lógico —, todo mundo se divertiu, alguns estranharam, e aí eu te pergunto: isso não é meritocracia, poxa? Deu um trabalho danado”. Depois do primeiro Pix, também chamado de “sinal” pelos mais puritanos, descobrimos que McHaggis gosta de praticar caça ao faisão. Como o Brasil não tem tradição na modalidade, tampouco faisões, simplesmente ignoramos. “O javali que se cuide”. Após comprar um castelo inutilizado na Escócia e convertê-lo em incubadora de pub sports (“quem joga sinuca não joga totó; quem joga totó não joga sinuca”), o empreendedor enxergou no Brasil uma oportunidade fantástica. O brasileiro médio já aposta no bicho, no jogo do tigrinho e no amor — por que não em sonetos? “E o Judiciário brasileiro está sobrecarregado, né”. Seu marketing de guerrilha começou com tudo: McHaggis fraudou saraus e torneios de poesia falada em Brasília — o que acabou fortalecendo a cena, afinal ninguém havia prestigiado nenhum deles. Não foi seu único rendez-vous na capital federal. O CEO reforça como o movimento é estratégico. “Veja, o escritor e o apostador têm muitos traços comuns, como delírio de grandeza, descrença irracional no próprio fracasso e o destino certo da falência”. No mais, não se assustem se a partir de agora todo conto publicado no RelevO tiver um personagem chamado Betão. Odds um para cinco. Nos textos ainda mais curtos, será possível apostar nos talentos da primeira incubadora de leitura dinâmica do Brasil. “Todo mundo sabe que uma parcela significante dos leitores compra jornal para ler umas duas coisas somente. Por que não facilitar e premiar o leitor que ler o jornal mais rápido?”, alega Betinho. “É só baixar um app e…” aqui deixamos de prestar atenção porque “bateu nossa múltipla” e ganhamos uns trocados. Ou alguma coisa assim. Ainda estamos aprendendo o vocabulário. Deu green! O RelevO manteve os direitos sobre o pangolim fumante. Ele até tentou nos alertar, mas o dinheiro falou mais alto. Literatura é capim de trouxa: vem derreter seu patrimônio na MacBET! DISCLAIMERO RELEVO APOIA O JOGO RESPONSÁVELAssim como todas as bets do planeta (e o Real Bétis), a MacBET não quer apenas lucro, degradação, overdose de dopamina e isenção fiscal. A MacBET não abre mão do jogo responsável. Como [até] olhar pra frente enquanto você usa o celular no banco do motorista com o carro em movimento. Ou [até] tirar a camisinha do envelope. Ou [até] remover a munição do revólver do avô antes de deixar o neto brincar de bang-bang. Para manter esse compromisso com a sociedade (e com regulações desnecessárias, teimosas e infelizes na sua interpretação do ser humano como alguém indigno da própria depravação), a MacBET aproveita o espaço no RelevO para reforçar seu compromisso com o jogo responsável:
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Enclave #131: tudo é artificial. ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ...
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Concursos literários, editais, cursos de literatura, eventos literários e financiamentos coletivos entre 4 de fevereiro e 2 de março. ͏ ...