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quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Dos teus anversos e observos

Dos teus anversos e obversos

                                                                                                                                    Para a poetisa Fabiane Braga Lima

di

Estou pausolitudes astrais

A esperar os magnificentes

Vívidos e velozes

Versos vorazes teus

***

Fico eu estático

No nevoento limbo existencialista

tesperá-los na alvorada rubra

Ao final do dia

Para acalentar os múlti-plos vazios

Das místicas e cósmicas

Ausências infindas

De todas as celestes dores inócuas

Do deserto do real

***

Estou eu ávido expectando

Com os meus débeis e cansados

Olhos sedentos

Os teus velozes e vorazes

Versos teus

***

Fico eu inquieto

Cobiçoso e sedento

Na completa escuridão

Aguardando os hialinos

Anversos ou obversos teus

 

Fragmento do livro: Astro-domo. Texto de Samuel Da Costa, é contista, cronista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

Arte digital de Clarisse Costa, que é designer gráfico, novelista, poetisa, contista e cronista em Biguaçu, Santa Catarina.

 

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Crônica do dia: Charlotte, e o triângulo vermelho!!! Ilusão do controle

Crônica do dia: Charlotte, e o triângulo vermelho!!! Ilusão do controle

 

''Em noites de tempestades!

E ventos álgidos...

Eu vagueio solitária... E languidamente!

Pelo mítico vergel da solidão...

Choro e sofro!

Todas as dores do mundo!

Pelo amor que se foi,

Por tudo aquilo que não veio...

E por tudo aquilo que nunca virá. ''

Samuel da Costa

 

            O badalar do sino já não irritava mais, o grupo de senhoras de idade avançada começaram a achar divertido o bar temático. As caveiras, mobiliários rústicos, as bandeiras Jolly Roger em toda a parte, assim como timões, antigas pistolas e mosquetões e as moças e rapazes vestidas a caráter. O casal de violonistas, postados na entrada do bar, tocava eternamente músicas de temática marinha, estavam caracterizados de piratas, estavam estáticos um em oposição ao outro. O cheiro de bebida barata e o vai e vem de uma massa de pessoas de idade avançada deixa o estranho e ao mesmo tempo aconchegante e quando um pianista caminhou rumo ao piano Blüthner. O homem negro, vestido como um músico de alguma tasca barata lusitana, o músico começou a tocar uma opereta a muito esquecida.

            — Vocês não acham engraçado? — Perguntou Adelaide Schmidt em tom zombeteiro, ela que estava levemente embriagada depois uns goles de rum.

            — O que é engraçado, minha querida? — Juliette Müller devolveu a pergunta, um tanto intrigada.

            — Delinha está falando da escuna! — Genevieve Weber responde com sorriso nos lábios.

            — Um tanto forçado minhas queridas! Margarida Correia e Margarida Cohen não são as mesmas coisas! — Disse Jeanne Schneider, querendo encerrar a conversa desagradável, que tirou um cigarro da bolsa, levar a boca acendê-lo com um isqueiro e dar uma baforada no ar.

            — A grande Margarida Cohen, é mesmo um tema que devemos evitar amadas amigas! — Falou Marie Meyer de forma dramática.

            — As Valquírias, Wagner! Toque uma boa música! — Gritou Elisabeth Muller, para o pianista se levantando e encarando o pianista.

O musicista, olhou para mesa onde as senhoras estavam, deu um sorriso e passou a tocar a Cavalgada das Valquírias de forma virtuosa e dramática.

— Outra ironia do destino amigas! — Preferiu Gertrudes Martin, depois deu uma gargalhada e as demais a seguiram. A explosão da gargalhada não passou despercebido dos demais frequentadores do bar.

— Maldita maquis! — Praguejou Katharina Dúbios e cuspiu no chão.

— Quando os nossos consortes voltam do passeio pirata? — Perguntou Charlotte Bernard Kerber.

Os maridos das senhoras à mesa tinham embarcado na escuna Margarida Correia, a um tempo atemporal, pois as esposas não tinham a mesma noção de tempo. Ao ocuparem mesas separadas depois de um longo dia cansativo de uma conferência anual do movimento do velho mundo, a qual estes pertenciam, que a cada ano era acrescido. Novos elementos, congêneres e aliados começaram a aparecer no evento outrora restrito. Neste ano, os elementos mais velhos foram agraciados com um passeio náutico em uma escuna pirata, uma encenação teatral, que está no bar Corsário Jean Lafitte, anexo ao ancorado na embocadura de um rio com o mar. A escuna aportou, os corsários desembarcaram percorreram o deck de madeira, contavam a música Wellerman, o coro das vozes masculinas e femininas chegaram aos ouvidos dos frequentadores do bar. Estes gritaram em coro: — Marujo! Uma garrafa de rum! — A trupe adentrou no Corsário Jean Lafitte, homens e mulheres devidamente caracterizados com as suas roupas de corsários do mediterrâneo. Se dirigiram até a mesa onde homens idosos bem vestidos de trajas de veraneio com as suas canecas de chopp.  

Tempo o capitão a frente, desembainhou uma grande espada estilizada, saltava os olhos as gravuras na peça, eram gravuras que remetiam aos abismos do fundo mundo do mar, com peixes, cetáceos e crustáceos desconhecidos. O brilho azul da espada hipnotizou a plateia, o homem alto, barbudo, uma barriga proeminente, cheiros de álcool barato, charuto ordinário, tapa olho, contas de pérolas no pescoço, pistolas espanholas na cintura. O capitão pirata apontou a espada para o centro da mesa.

— Marujos! Bucaneiros! Ahoy! Carreguem estas peças de pilhagem para o navio! Levante a âncora e ice a mezena! Hasteiem a Jolly Roger! O andar na prancha, lhe esperam! — Bradou o capitão pirata de forma teatral. Os senhores sorriram, se levantarem, ergueram as mãos e a tripulação os acorrentou e por fim caminharam para a escuna Margarida Correia.

— Se bem me lembro, Margarida Cohen alvejou a bala, muitos dos nossos soldados nas Florestas do Vosges, Hardt e Haguenau — Disse Gertrudes Martin e prosseguiu — Eu mesma tratei dos feridos e preparei os corpos para o funeral.

— Eu servia no sistema de ferrovias nacionais, li os relatórios e vi os estragos que o grupo Margarida Cohen fez nas linhas férias! — Relatou Elisabeth Muller com a voz trêmula.

 — Vocês tiveram sorte, eu conheci os dois majores, que Margarida Cohen seduziu em uma tasca, os levou para fora e os matou a golpes de adaga! — Disse Katharina Dúbios, com o pesar na voz.

     — E a conheci pessoalmente, minha querida! — Disse Genevieve Weber, as outras olharam para ela! — Trabalhávamos no mesmo hospital, o pai e a mãe dela trabalharam no mesmo hospital até serem presos e concentrados no leste. Ela escapou!   

             — Eu estava lá quando a pegamos, a corte marcial a condenou à morte, mas o alto comando deu a ordem para a levarem para a capital do império! Dizem que a trocaram com os nossos que estavam no leste! — Falou Adelaide Schmidt

            — Se bem me lembro! Havia neblinas, que ocorriam quando Margarida Cohen atacava! Névoa como ela era conhecida — Falou Charlotte Bernard Kerber.

            A trupe teatral reapareceu para o segundo ato da peça, os atores contavam O Marinheiro Bêbado, The Drunken Sailor. As senhoras, foram informadas por um panfleto, que seriam levadas a uma praia privativa e de difícil acesso, seriam levadas a junto dos seus maridos. Os atores estavam com os olhos vidrados, os sorrisos revelavam os dentes decadentes, os figurinos estavam degradados e a cena se repetiu se, de quando os maridos foram levados. Os respingos de sangue fresco, o cheiro de pólvora queimada e as senhoras se levantaram, Charlotte Bernard Kerber foi a única que ficou sentada. Ao ganharem a luz do dia, ao caminharem pelo deck de madeira, uma neblina espessa apareceu repentinamente, acorrentadas as senhoras embarcaram na escuna Margarida Correia. Atrás deles os piratas do Triangula vermelhos deram vivas, embarcaram na escuna, foram todos tragados pela neblina e um sino tocou em algum lugar desconhecido.

 

Fragmento do livro: Do diário de uma louca, texto de Clarisse Cristal, poetisa, contista, novelista e bibliotecária em Balneário Camboriú, Santa Catarina.

Arte digital de Clarisse Costa, é designer gráfico, poetisa novelista, contista e cronista em Biguaçu, Santa Catarina.  

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Latitudes #66

Dos teus anversos e observos

Dos teus anversos e obversos                                                                                                                ...